MUXARABIS

Vladmir Queiroz, 2015

Muxarabis chegou para mim bem recomendado pela poetisa Solange Durães, que não poupou elogios à obra, muito menos ao autor. E ali estava eu, com o livro preto nas mãos e a responsabilidade de desvendar os mistérios por detrás das treliças poli dimensionais daquela escrita poética. Uma escrita que possui um valor estético imensurável, assim como o muxarabis – que proporciona ao ambiente iluminação e ventilação naturais. Os poemas de Vladimir Queiroz têm brilho próprio e um complexo trançado de palavras no papel, ao mesmo tempo em que vazam luz, deixam as sombras se derramarem sobre eles, agregando estética única aos poemas.

A obra é acompanhada por belíssimas ilustrações da artista plástica Lilian Morais, agregando-lhe ainda mais valor estético. O que me remete, involuntariamente, a uma discussão histórica sobre a relação entre signo verbal e signo visual, isto é, o diálogo entre literatura e artes plásticas permanece na contemporaneidade. Assim, Vladimir traz em sua obra a união entre imagem e a letra, entre o estético e o histórico como formas de representação de sua escrita.

No poema “Abismos”, os muxarabis revelam os nossos abismos, medos, devaneios, tormentas emocionais. Na noite escura, a luz que atravessa as treliças circulares projetam imagens sombrias na parede da alma do homem moderno que navega sem rumo.  

Em “Muxarabis”, que dá nome ao livro, a imagem por detrás das treliças aguça a imaginação dos olhos que vê, mas não tem certeza do quê; bordados entrelaçados escondem a beleza, o segredo e os devaneios de um amor guardados em jura.

Em “Akárá”, a figura da mulher é representada pela baiana de acarajé que, apesar das mãos queimadas (pelo exercício do seu ofício) e, metaforicamente, calejadas e marcadas pela lida do cotidiano, provavelmente pobre, são também as mãos que “seguram a flor vermelha”, que se adornam com tranças e torços de uma mulher dual: santa e profana mas, acima de tudo, mulher. Embora o poema caiba outras interpretações, como a conotação sexual atrelada ao seu ofício, é inegável que o eu lírico do poeta consegue enxergar a beleza (possivelmente) negra por detrás do tabuleiro que esbanja sensualidade e a feminilidade de mulher, como o aroma do acarajé fritando no dendê invade as narinas sem pedir licença.

Em “Lagar”, o amor erotizado escorre seu sumo nas páginas do “Muxarabis” como vinho que se derrama por entre os dedos de quem escreve e lambuza as mãos que vira a página. A ilustração que acompanha o poema é uma algaravia sem fim, que a depender de sua posição, dá asas à imaginação, pelas múltiplas possibilidades de leituras. Numa dessas releituras, me peguei pensando em duas palavras que pareciam me provocar: lagar e lugar; que lugar é esse que o amor (como fruto) é espremido até morrer- (lagar)?

Do sacrifício do fruto nasce o vinho dos amantes, e nesse trançado da paixão não se sabe ao certo quem é o vinho ou quem é o fruto no altar do sacrifício, muito menos quem é o “Enólogo”, apenas, que o líquido se derrama.

No livro “Muxarabis”, Vladimir Queiroz – um “Sommelier Literário”, oferece uma excelente carta de vinhos poéticos para os “Enófilos Literários” – os apaixonados por poesia. Deguste sem moderação.

Alexandra Patrocínio

Deixe um comentário